23 fevereiro 2009

Textos Escolhidos (6)

Minha primeira experiência explícita com a religiosidade foi a preparação e ao final dela, a cerimônia da minha primeira comunhão. Na época, e por tratar-se de um colégio de freiras católicas, esta solenidade era um evento dos mais importantes do calendário anual da comunidade escolar.
Foram meses de catequese e reuniões de treinamento para a missa dominical, onde prestamos compromisso para com os dogmas da igreja católica; preparativos da indumentária (terno escuro, camisa branca e gravata) e aquisição dos adereços obrigatórios para a solenidade (livreto, rosário, vela, etc...), como revelam as fotos em destaque no hall de entrada da casa de minha mãe.
Coincidentemente, os dois compromissos que assumi com Deus, de terno e gravata, dentro de sua casa, na minha juventude, não consegui cumprir. Mas da segunda promessa falaremos mais adiante.
Essa prática de fardar o sujeito aos sete anos de idade, para parecer adulto, e assim mostrá-lo pronto para assumir um compromisso para a vida toda, e que trata de questão tão significativa de sua vida, - suas escolhas espirituais - não poderia mesmo dar resultado.
O casamento, outro dos sacramentos da igreja, não se diferencia muito da primeira comunhão, a roupa, a pompa e a promessa se equivalem. Esta última também não consegui cumprir.
taddeu vargas

Amor Difícil

taddeu vargas
Este texto estava escrito desde o dia 7 de janeiro. Com pequenas alterações ele vai ao ar agora, pois na época faltava clareza de raciocínio, ou inspiração para completá-lo.

Há pouco mais de um ano o Universo atualizava uma das mais esperadas de minhas escolhas e me entregava aquela que viria ocupar o espaço do meu coração tão cuidadosamente reservado à mulher que quebraria o encanto da minha voluntária solidão.
O passo seguinte seria enfrentar o desafio do desequilíbrio e chegar vivo do outro lado.
Ao longo desses meses sempre vi com inveja aqueles mágicos momentos, pela coragem exigida pelas leis da vida, à protagonista da invasão dos mais sagrados redutos do meu utópico isolamento.
Depois viriam novas provações, ou provocações, quase mortais para o projeto de vida do mais lindo de todos os enredos de amor da vida do marujo, que singrara milhas e aportara na terra da corajosa protagonista dos primeiros encontros, devolvendo o gesto.
Aparentemente vivo e tendo vencido tantos desafios, busco agora saber o que colhi.
taddeu vargas

08 fevereiro 2009

Desafio do Desequilíbrio II


O apego material funciona como uma âncora que não permite o vôo do pássaro, ou a partida da humana nau do marujo, rumo às desconhecidas, mas amistosas águas do etéreo, na necessária viagem ao seu interior.
Esse foi o maior obstáculo para o projeto de crescimento espiritual que acabou por redesenhar o ora aprendiz de escritor.
Quando essa fase estava sendo superada, o Inventor da sabedoria testou sua obra, colocando no caminho do discípulo sua meia alma.
Existem momentos na vida que não se precisa de uma certeza. Uma dúvida já é suficiente. Esses momentos são difíceis, mas definem uma vida.
O amor chegou sorrateiro, disfarçado de saudade, e no início pegou o marujo blindado pelo medo. Até hoje ainda arrepia um pouco...
Aos poucos o desafio foi sendo entendido como a espada que traria o equilíbrio entre o desapego imperativo e o amor humano indispensável.
O desafio do desiquilíbrio somente foi superado porque uma obra imensa dependia disso. Esta certeza inconsciente costurou - e continua mantendo - uma relação complexa e cheia de descaminhos, mas que carrega um amor do tamanho de toda essa conspiração.
taddeu vargas